Tráfico, Milícia e Jogo do Bicho, essas três contravenções são muito presentes no Rio de Janeiro a um bom tempo. A mais antiga das três é o Jogo do Bicho, presente na cidade desde 1892, cujo objetivo inicial era nobre: Ajudar o zoológico da cidade, na região de Vila Isabel. Mas no entanto com o passar do tempo foi se transformando num jogo extremamente popular, mas que passou a ser proibido definitivamente pelo governo a partir dos anos 40. E o motivo é simples: Porque o governo alegam que o Jogo do Bicho não paga imposto.
Já as outras duas modalidades da contravenção, o Tráfico e a Milícia surgiu bem depois. De um modo geral o Tráfico e a Milícia surgiram quase que na mesma época, nos anos 70. A Milícia surgiu quando comerciantes de comunidades carentes do Rio de Janeiro resolveram pagar policiais a parte para evitar a entrada do tráfico nessas comunidades ainda nos anos 70. Mas a partir do começo dos anos 80, principalmente após a fundação do Comando Vermelho em 1979 e ao mesmo tempo ascensão meteórica da cocaína no Rio de Janeiro nesta época, o Tráfico rapidamente se expandiu pela cidade do Rio de Janeiro, surgindo duas facções rivais: O Comando Vermelho e Terceiro Comando, que controlavam o Tráfico em várias comunidades da cidade.
Mas no entanto é a partir dos anos 2000 é que a Milícia ganha força, quando que com o passar do tempo a Milícia começa então a perceber que poderia manter o monopólio de alguns serviços nas comunidades, como a cobrança de transporte alternativo nas comunidades, como vans, moto táxis. A cobrança de TV a cabo, venda de botijão de gás, além também de extorsão a comerciantes, onde muitos comerciantes nessas comunidades carentes são forçados a pagar uma taxa aos milicianos por mês ou por semana para suposta proteção.
Mas porque o Rio de Janeiro é tão cobiçado pelo Tráfico, Milícia e Jogo do Bicho?
O motivo é muito simples: A cidade é extremamente populosa concentrada em uma área territorial pequena comparada ao tamanho de sua população. Só pra se ter uma ideia, a cidade do Rio de Janeiro tem 6,7 milhões de habitantes e uma área territorial de 1.200 km2. E pra efeito de comparação, o estado de Santa Catarina tem 7 milhões de habitantes e uma área territorial de 95 mil km2, sendo quase 100 vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro.
E como uma cidade com uma população enorme, é lógico que a população tem muitas demandas dos mais variados tipos e por concentrar toda essa população em um território pequeno fica muito mais fácil para os grupos criminosos controlar suas ações e operações na cidade. Diferentemente se a cidade tivesse por exemplo um território do tamanho de Santa Catarina, onde seria muito mais difícil o controle das ações criminosas num território grande.
E além disso a cidade do Rio de Janeiro possui muitas comunidades carentes {favelas}, são mais 1 mil no total, e infelizmente a população dessas comunidades, que são muita gente por sinal ficam refém das organizações criminosas, sendo muitas vezes obrigados a consumir apenas os serviços que eles fornecem, como acontece com as Milícias, pois historicamente o governo não dava muita atenção para essas comunidades carentes.
Já com relação ao Tráfico, como disse antes, toda a população tem suas demandas, e infelizmente há muita gente que tem demanda em consumir drogas, e por ser uma cidade extremamente populosa, com 6,7 milhões de habitantes, é natural que haja muita gente com demanda de usar drogas proporcionalmente falando comparado a outras cidades. Ou seja... Se numa cidade de 300 mil habitantes há um certo número de pessoas que consomem drogas, é óbvio que numa cidade com quase 7 milhões de habitantes haverá um número bem maior de pessoas que consomem drogas, e é por isso também que o Tráfico no Rio de Janeiro é bem lucrativo. Segundo a antiga inspetora da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Marina Magessi, somente uma favelinha do Rio de Janeiro fatura 1 milhão de reais por mês com a venda de drogas no varejo. A comunidade da Rocinha por exemplo, onde o Tráfico é mais lucrativo, segundo a DRE {Delegacia de Repressão a Entorpecentes} em janeiro de 2002 o Tráfico na Rocinha faturava cerca de 10 milhões de reais por semana, e isso em 2002, imagina o quanto nos tempos atuais valeria esse dinheiro.
Já o Jogo do Bicho é tão lucrativo assim pelo mesmo motivo que as opções anteriores: Uma cidade com uma população enorme concentrada num território pequeno. E pra variar o Jogo do Bicho é considerado uma contravenção penal mais leve que o Tráfico e a Milícia, e devido a isso pessoas de quase todas as idades e classes sociais costumam jogar no bicho, o que rende uma graninha legal para os bicheiros que mantém bancas em vários cantos da cidade. E além disso as bancas não precisam ser salas comerciais, elas podem ser simplesmente ume mesinha na rua ou em qualquer local, onde fica um funcionário vendendo os bilhetes.
Além disso o Jogo do Bicho é tão lucrativo e "estável" no Rio de Janeiro que houve uma vez que os bicheiros resolveram dividir o território da cidade em pontos de vendas, ou seja.. Em alguns bairros um bicheiro controla, outros bairros outro bicheiro controla, e assim por diante. E vale lembrar que a cidade tem 160 bairros, ou seja.. O Rio de Janeiro é uma mina de ouro.
É claro que isso não quer dizer que essas contravenções tem somente no Rio de Janeiro. Elas tem também em outras cidades, porém o Rio de Janeiro conseguiu unir o útil ao agradável ao mesmo tempo, que é uma população enorme com os variados tipos de demandas concentrada em um território pequeno, onde é fácil de essas organizações controlarem com mais rigor.
E Porque São Paulo não tem?
E muita gente provavelmente deve está se perguntando sobre a cidade de São Paulo, que tem uma população maior que o Rio de Janeiro. E a resposta é bem simples: É que em São Paulo existe o monopólio do PCC, o Primeiro Comando da Capital, então é naturalmente na cidade são tem outras facções criminosas como aconteceu no Rio de Janeiro. Já a Milícia e Jogo do Bicho surgiram no Rio de Janeiro mesmo e não se espalhou para São Paulo justamente por conta do PCC. É claro que pode ser que em São Paulo tenha alguns pequenos casos de Milícia ou Jogo do Bicho, mas não é como no Rio de Janeiro, onde a presença é muito grande.
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